FATO: Bandas de Pífano Resistem
Em 2022, no decreto nrº 53.637, de 21.09, o governador Paulo Câmara homologou Resolução do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural – CEPPC, que conferiu o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco às Bandas de Pífano.
O pedido de Registros das Bandas de Pífano de Pernambuco foi iniciado em 2019, com o mapeamento de 82 bandas de pífano existentes no Agreste e no Sertão. Este projeto, realizado pela produtora Página 21, de Recife, resultou na publicação do livro, Pífanos do Sertão, que trata dos aspectos socio-econômicos e culturais, o papel da religiosidade e o estilo sonoro das bandas de pífanos sertanejas e as dificuldades enfrentadas para continuarem existindo.
BANDAS E NOVENAS

Foto: Paula Rubens
“As bandas de pífanos, em geral, possuem estreita afinidade com os ritos católicos. O repertório tocado são os benditos, as rezas, muitas vezes acompanhado pelo canto dos devotos. Ao final da novena executam coreografia chamada vênia, variações entre o cruzamento dos músicos diante do altar – de acordo com a hierarquia dos instrumentos dentro da banda”, diz o estudo.
Presentes desde o momento da abertura até o final dos nove dias, as bandas animam as novenas . “Uma novena sem banda de pife é quase um velório”, diz José Cesário, da banda Frei Damião, de Tabira, um dos entrevistados. Além disso, são elas que, por serem realizadas durante o ano todo em diferentes comunidades, ajudam a salvaguardar as bandas de pífanos e a complementar o orçamento familiar dos músicos.
IMPORTÂNCIA
Patrimônio imaterial é toda expressão cultural ou tradição, mantida por grupos ou indivíduos para a preservação da ancestralidade e da identidade brasileiras, como modos de saber, celebrações, ofícios e jeito de se expressar.
O Pífano é uma expressão musical aparentemente simples, integrada na cultura do sertanejo, presente nas festas religiosas (novenas e procissões) e nos ritmos nordestinos, como o forró, o arrasta-pé, o baião, entre outros.
O inventário realizado em Pernambuco faz parte do esforço para que as bandas de pífanos sejam consideradas Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo Ministério da Cultura/Iphan. No entanto, foi observado que ,”num equivocado empenho de “modernizar” gestões, prefeituras e igrejas relegam as tradicionais rezas, procissões, andores e tocadas de pífanos em benefício de apresentações de forró eletrônico”;
PÍFANOS DO SERTÃO DE ITAPARICA
No mapeamento produzido, foram apontadas 13 Bandas na região no Sertão de Itaparica, São Francisco e Araripe. Entre elas a Banda São Francisco, de Petrolândia, Banda da Aldeia da Tapera, em Jatobá e a Banda de Carnaubeira da Penha, que apresentam, em sua essência, uma percussão diferenciada, assim como a forma dos cânticos e coreografias.
NOVOS TEMPOS
As pesquisas tropicalistas de Gilberto Gil deram visibilidade nacional às bandas de pífano, em particular à de Caruaru, denominada em seu primeiro LP, no início dos anos 1970, como Banda de Pífano Zabumba Caruaru. A lendária orquestra fez história na música popular brasileira, e segundo Gil já falou, teve influência das bandas de pífanos. Em 1972, a banda aparece no LP Expresso 2222, de Gil, tocando Pipoca Moderna, primeira faixa do disco.
Em 1994, o músico dos sopros, Carlos Malta, conhecido como “Escultor dos Ventos” , fundou a Banda Pife Muderno. O seu primeiro CD, intitulado Carlos e o Pife Muderno em 1999, passeia por alguns clássicos, em especial da música nordestina, inserindo elementos do jazz e ritmos brasileiros com composições e sucessos de artistas de diferentes épocas e origens e rendeu a indicação ao Grammy Latino.
Os novos tempos trazem outras formas de ver e interagir com o mundo, principalmente no que diz respeito à cultura. Preservar a tradição de nossos ancestrais é entender a nós mesmos, quem somos e de onde viemos. É dever das gerações mais recentes preservar sua identidade cultural e criar um espaço de convivência harmonioso entre o antigo e o novo, assim como fizeram Gil e Carlos Malta, em um belo exemplo a ser seguido.
Fonte:
Pífanos do sertão / Eduardo Monteiro de
Lima Neto … [et al.] , 2016
tocandopifanos.com
carlosmalta.com.br/biografia-pife-muderno
